quinta-feira, 10 de julho de 2008



John Maeda é um homem simples. Há pouco tempo, saiu para comprar um telemóvel básico, mas tudo o que encontrou foram aparelhos com inúmeras e complexas funções. “Todas essas opções cansam-me. Fiquei tão irritado que, no final do dia, dei-me por vencido. "Ainda não tenho um.”
Assim como muitos consumidores, Maeda, fundador do Consórcio da Simplicidade do Laboratório de Media do MIT, está farto da tecnologia complicada. No seu novo livro, As Leis da Simplicidade, argumenta que “aprimorado” não é necessariamente sinónimo de um produto com mais funções. Maeda falou sobre o que as empresas podem fazer para nos ajudar a viver uma vida mais simples:

Como foi que a simplicidade se converteu na sua paixão?
Nasci e cresci em Seattle, onde trabalhei com meu pai numa loja do bairro chinês
que vendia tofu. Era uma vida muito simples. Sobreviviamos a fabricar um
produto e a trabalhar numa empresa familiar. Não vendíamos mais do que uma variedade
de tofu. Muitos clientes pediam outras, mas o meu pai dizia: “Isto é tudo o que terão; simplesmente é o melhor”. Quase sem me dar conta, estava no MIT, um mundo complexo. Um dia descobri que as letras “M”, “I” e “T” apareciam em sequência dentro da palavra simplicity (simplicidade). De facto, o mesmo poderia-se dizer de complexity (complexidade). E o “T” é a inicial de “tecnologia”, a causa para hoje nos sentirmos tão sobrecarregados. Nesse momento senti uma dupla responsabilidade: alguém do instituto deveria corrigir a situação e encontrar formas de evitar a complexidade dos dispositivos que nos rodeiam.

Afirmou que os executivos de marketing deveriam eliminar funções dos produtos para simplificá-los. Porque é que não existe mais empresas que estão a fazer isso?
Há algumas. Na verdade, contaram-me que no Japão a Toshiba reduziu as funções de um
de seus telemóveis a metade e que as vendas aumentaram significativamente.

Mas muitos consumidores não gostam de ter funções extras num produto?
Sim, há utilizadores assim. Adoram o mistério e a complexidade. Em geral, são os mais jovens, porque à medida que envelhecemos tomamos consciência de que o tempo é precioso e não queremos desperdiçá-lo em perceber como funciona um produto.

O consumidor que desfruta a complexidade vai querer simplicidade?
Acredito que sim, porque eu já fui um deles; queria mais, mais e mais. Mas cansei-me. E cada vez há mais gente como eu. Não só compram, mas adoram o design que simplifica a sua vida. Os consumidores que continuam a querer funções extras vivem segundo o princípio da ilha deserta. É como se pensassem: “O que aconteceria se me visse preso numa ilha deserta? Precisaria de um abre-latas que, além de abrir uma lata, servisse para outras coisas. Por exemplo, poderia ser um calendário”.

Um abre-latas com calendário?
É de loucos, não é? A realidade é que a maioria das pessoas raramente usa muitas funções de um produto. Elas acreditam que precisam daquilo, mas só porque não têm
consciência do fantástico que pode ser algo simples. Para que o conceito de um novo produto seja bem-sucedido, deve começar sendo simples, como o iPod. Quando saiu, era
agradável. Só conseguia reproduzir música. Agora, cinco anos depois, o consumidor médio não sabe como usá-lo. Reproduz vídeos, jogos e outras coisas. Tornou-se em algo muito diferente. Os produtos simples tendem a tornar-se mais complicados e transformam-se num problema para as pessoas que os adoptam tardiamente: elas sentem-se frustradas. Pode parecer estranho, mas ninguém pensa nelas. A tecnologia é criada por tecnólogos. E eles não percebem a razão por que alguém quereria algo simples.

Se as pessoas se sentem atraídas pelo simples, por que se agregam tantos acessórios aos produtos?
Porque os consumidores gostam de ter a possibilidade de fazer o que quiserem com os seus produtos, mas não querem delegar às empresas o poder de complicar.

Escreveu: “Dou-me conta de que, embora a ideia de eliminar a complexidade do planeta possa ser o caminho mais curto para uma simplicidade universal, talvez não seja o que na verdade desejamos”. Se é assim, para quê escrever um livro sobre o tema e por que estimular os fabricantes a simplificar seus produtos?
A minha intenção foi a de criar um debate em torno da simplicidade. Estamos numa fase
em que tudo é exageradamente complexo e alguém precisa denunciar isso. Temos de voltar a simplificar as coisas, mesmo que, com o tempo, quando se tornarem mais simples, voltemos a torná-las complexas.

(Fonte: Entrevista de Vadim Liberman, The Conference Board Review)

Posted by ... Unknown às 11:46
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