No seu último livro utiliza uma nova metáfora para explicar o mundo do trabalho, os "elefantes" e as "pulgas". O que significa cada um?
Os elefantes são as grandes organizações e as pulgas as pequenas. Também existem os trabalhadores pulgas, que saltam de elefante em elefante, ou aqueles que se incorporam nas grandes organizações, mas que só têm uma ou duas pessoas à sua responsabilidade. São os "intrapeneurs", os empreendedores internos.
Quais são as razões para esta mudança radical?
Primeiro, hoje em dia a comunicação é mais fácil e mais barata. Segundo, a maioria dos produtos da grande parte das organizações com maior valor são intelectuais, conhecimento, competências e não apenas objectos físicos. Estou a referir-me ao mundo desenvolvido. Por isso, não é preciso ter todas as pessoas no mesmo lugar ao mesmo tempo para produzir. Podem estar espalhadas ao redor do mundo. E não têm que ser empregadas pela mesma organização para a realização do acto produtivo. Mas se for preciso interagir com as pessoas durante todo o tempo, então é mais barato para a empresa em tê-las empregadas sem termo.
Todavia, se só for necessário interagir com elas pontual e ocasionalmente - por exemplo com o advogado uma vez por semana e não todos os dias - faz mais sentido possuí-las fora da organização e "puxá-las" apenas quando se precisa delas, em vez de tê-las sempre ali o tempo todo. Portanto, só as grandes organizações, os elefantes, é que vão ter departamentos de recursos humanos de grande escala. As pequenas organizações não vão precisar deles o tempo todo. Por isso será mais lógico contratar peritos e consultores quando estas precisarem. Todos processos administrativos serão feitos em "outsourcing". O centro nervoso da organização será muito mais pequeno.
Mas algumas organizações e indústrias terão ser grandes porque o dispêndio de capital e os riscos são enormes. Por exemplo, se o tráfego descer tanto como no ano passado, os riscos são tão grandes que é necessário à empresa possuir uma dimensão de grande escala para conseguir suportá-los. A tendência é para termos menos empresas aéreas e a consolidação do sector.
Portanto, a proporção de elefantes e pulgas depende do sector e da indústria...
Exacto. As pulgas vão concentrar-se nos sectores dos serviços, do conhecimento puro e naqueles onde não é preciso muito investimento de capital. Por isso não se encontrará muitas pulgas na indústria aeroespacial ou no sistema bancário, por exemplo. Mas algumas organizações dirão que são grandes. Uma cadeia de hotéis, de fora poderá parecer uma grande organização, mas por dentro não será. É sim uma série de pequenas organizações juntas.
Quais são as características principais de uma organização pulga?
Deverá ser uma organização pequena e com pessoas de alta qualidade, mas quais se poderá confiar a realização do trabalho em conjunto sem a necessidade de serem fiscalizadas. Estas organizações deverão poder ser geridas sem reuniões, em que toda a gente sabe o que tem a fazer e como o fazer.
Pode dar um exemplo concreto?
A universidade é um bom exemplo para um modelo de negócio de uma organização pulga. Isto porque só contrata capital intelectual, os professores, e cada um tem a sua autoridade na matéria. E estes têm que ser geridos de acordo com a sua autoridade intelectual e possuem muita autonomia no trabalho que realizam.
E o como define trabalhador pulga?
São a sua própria marca. Eu sou uma marca.
Então considera-se a si mesmo como uma pulga?
Absolutamente. Uma pulga está encarregado de todo o processo de produção, o que é maravilhoso. Excepto quando algo corre mal, não se possui apoio organizacional. A responsabilização é total.
E que tipo de pulga se considera ser?
Bem, há vários produtos debaixo de uma marca. Por exemplo, eu escrevo livros, artigos, faço conversas de rádio, palestras e algumas vezes realizo um bocado de "coaching", formação de acompanhamento para executivos. Portanto, há muitos produtos que se encaixam numa marca. No caso da minha, os livros são o líder.
Então defende que os trabalhadores mais qualificados seguirão essa via de carreira?
Terão bom senso se o fizerem num determinado estádio da vida. Provavelmente trabalharão durante um certo tempo dentro de um elefante, para ganhar experiência e ganhar contactos. E depois sairão mais cedo do que pensavam, depois de 10 ou 15 anos.
Aí pelos 30 ou 40 anos de idade?
Mais ou menos. Mas muitas pessoas têm as suas famílias por volta dos 30 anos de idade e preocupam-se com o dinheiro. Pensam, provavelmente enganadas, que existe mais segurança dentro de uma grande organização. Se calhar não existe, mas pensam assim. Pela minha experiência, tornam-se quase todas pulgas mais tarde quando deviam tê-lo feito mais cedo. Depois arrependem-se porque o deviam ter feito mais cedo. Isto porque estão a gozar a liberdade de estarem em controlo da sua vida. Esta mudança aplica-se às pessoas mais qualificadas, já que são estas que têm mais facilidade em realizá-la. Mas pode-se aplicar a qualquer pessoa.
Até aos trabalhadores operacionais e com trabalhos de menor valor acrescentado, como os temporários? Essas pulgas sobreviverão?
Bem, os motoristas, canalizadores, electricistas também são pulgas. É verdade que esta mudança é perigosa, porque pode conduzir a uma sociedade muito egoísta. A minha esperança é que as pessoas precisam das pessoas. A educação e a formação deviam ser mais direccionadas para trabalhos em grupo para que as pessoas entendam que só podem ser bem sucedidas se o grupo for bem sucedido. Têm que entender que o seu sucesso está ligado ao sucesso dos outros.
E acha que toda as pessoas estão preparadas e desejam ser pulgas?
Penso que toda a gente gostaria de ser um bocado pulga. Acho que algumas pessoas nunca deram largas ao seu potencial. Nunca foram encorajadas para tomar responsabilidade pelas suas vidas. Por exemplo, foi-me dito que se fosse para esta escola, realizasse estes exames e fosse para esta universidade, então conseguia um determinado emprego. Ninguém me disse que podia decidir não fazer essas coisas e decidir realizar outras coisas. Era como se estivesse numa linha de comboio. E algumas pessoas ficam toda a vida nessa linha de comboio. E depois, subitamente, aos 65 anos de idade, a linha acaba e estão numa planície aberta. Ficam muito confusos e desenquadrados e não sabem para onde se dirigir. E depois morrem. Penso que isto vai acontecer a mais pessoas não aos 65 anos, mas aos 55 anos de idade. Vão ter mais 20 anos de potencial e não estão preparadas para utilizá-lo. Por isso, acho que toda a gente podia ser mais depressa uma pulga, se fossem encorajadas desde cedo para tal. Se no fim da vida as pessoas não estiverem preparadas para isto, estas terão muitos problemas e custará muito dinheiro à sociedade, porque teremos que arranjar dinheiro e formas para serem alojadas e tratadas.
Então as pessoas deverão ser activas depois da reforma?
A palavra reforma deixará de existir.
Para a Europa isso é um choque no Estado-providência. Como é que se lida com essa revolução?
A idade da reforma vai ser aumentada para os 70 ou 75 anos de idade e serão feitos pagamentos especiais às pessoas que estiverem doentes ou incapacitadas antes dessa idade. Mas como as organizações não vão querer ficar com as pessoas por tanto tempo, estas terão que ganhar dinheiro porque não conseguirão sacar a pensão do Estado. Por isso, aos quarenta anos de idade as pessoas começarão a poupar dinheiro para esse período. Este cenário será realidade daqui a 50 anos. Por caso, estou a preparar um novo livro que reúne casos de mulheres que recomeçaram a vida aos 60 anos.
Mas o mercado de trabalho europeu é conhecido pela sua rigidez e os sindicatos não devem gostar muito da teoria das pulgas e da mudança do Estado-providência... Basta ver as reacções na Cimeira de Barcelona.
Os sindicatos perderão no fim. A Europa está crescentemente a tornar-se num mercado comum e o Euro permite comparar preços entre países. Em muitos casos, o trabalho e as fábricas mover-se-ão, por exemplo, de Itália onde os sindicatos são muito fortes e não gostam de flexibilidade, para a Alemanha ou a França. Então os sindicatos verão que terão que mudar.
E esse processo quanto tempo levará?
Cerca de 10 anos. Nessa altura os sindicatos europeus serão muito diferentes. Serão como associações profissionais, estarão para ajudar os profissionais liberais, as pulgas, com as suas finanças e impostos. Por exemplo, a minha mulher está inscrita no Sindicato Nacional de Jornalistas. Mas não negoceiam por ela, apenas prestam conselhos e consultoria de gestão de carreira. O mais caricato é que a profecia de Marx sobre o poder dos trabalhadores cumprir-se-á. Pela primeira vez na história, os trabalhadores possuem os meios de produção, que são o conhecimento e o capital intelectual.
(fonte: janelaweb.com)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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10:40
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entrevista
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