"Wikinomics" relata casos de companhias que passaram a utilizar a colaboração em massa via internet para criar novos produtos
Companhias fechadas, hierarquizadas e que prezam o segredo industrial estão fadadas ao fracasso, diz o autor de best-seller
O mundo vive o início de uma revolução na forma como as empresas inovam e produzem, e as que não perceberem logo a transformação correm o risco de perecer. Nesse admirável mundo novo, não haverá lugar para companhias fechadas, hierarquizadas e que guardam seus segredos industriais a sete chaves. A senha para crescer será a colaboração em massa, proporcionada pela internet e os "wikis" -softwares ou páginas que podem ser editados por qualquer usuário.
A utilização deste novo modelo vai além da enciclopédia Wikipedia ou do YouTube e começa a entrar rapidamente no mundo industrial. Trinta e cinco empresas da Fortune 500 fazem parte do InnoCentive, um site que reúne 91 mil cientistas de 175 países. Nele, as companhias colocam problemas que suas equipes de P&D (pesquisa e desenvolvimento) não conseguem solucionar e oferecem recompensas que vão de US$ 5.000a US$ 100 mil para os que trouxerem respostas viáveis.
Em vez de se limitar a seu grupo de funcionários, nomes como Boeing e Procter & Gamble procuram inovação em âmbito global, o que eleva a rapidez e o espectro das descobertas.
Apesar de ter 9.000 pesquisadores, a Procter & Gamble decidiu que 50% das ideias para o desenvolvimento dos seus novos produtos deverão vir de fora de suas fronteiras até 2010.
Esses são alguns dos inúmeros casos relatados no livro "Wikinomics - Como a Colaboração em Massa pode Mudar seu Negócio", de Don Tapscott e Anthony D. Williams.
Em entrevista concedida à Folha por telefone, Tapscott afirmou que o mundo inicia uma etapa inédita de democratização da informação e de participação, proporcionada pela internet e os novos programas abertos à interação com o utilizador.
"Wikinomics" é a palavra criada por Tapscott para descrever um novo modo de organização da produção, marcado pela abertura, transparência, colaboração entre pares e ação global. "As empresas têm de deixar de se estruturarem como multinacionais e passarem a agir como empresas verdadeiramente globais", disse Tapscott.
Sem fronteiras
A idéia que empurra as empresas para a colaboração em massa é a de que em algum lugar do mundo pode haver respostas melhores para os seus problemas do que as disponíveis dentro de seus muros. Com a tecnologia actual, essas soluções podem viajar na velocidade de um clique de rato de um lugar a outro do globo.
A companhia mineira canadiana Goldcorp foi uma das pioneiras na prospecção desse mundo sem fronteiras. O dono da empresa, Rob McEwen, tomou uma decisão radical em 2000, quando suas esperanças de localizar novas jazidas de ouro em Ontário estavam quase esgotadas: colocou na internet todas as pesquisas geológicas que a companhia realizou e lançou um concurso global, com prémio de US$ 575 mil para os que contribuíssem com as melhores ideias na elaboração do mapa da mina.
Ouro
Dezenas de pessoas de diferentes partes do mundo responderam ao desafio, e a Goldcorp encontrou jazidas de ouro em quantidade suficiente para catapultar a sua facturação de US$ 100 milhões para US$ 9 biliões. A colaboração em massa permitiu que a empresa encurtasse seu tempo de pesquisa e prospecção em dois a três anos, segundo McEwen.
Para ser bem-sucedida nessa empreitada, a Goldcorp teve que abrir para o mundo informações geológicas estratégicas, tratadas até então como segredo industrial. No novo universo "wiki", diz Tapscott, as companhias terão de mudar a relação com a propriedade intelectual e passarem a ser transparentes.
"Um químico reformado na Alemanha ou um estudante de São Paulo podem ter a solução de que as empresas precisam."
Consumidor já participa da criação de produtos
Wikipedia e Second Life são exemplos de produtos nos quais os utilizadores definem o conteúdo; empresas ainda não sabem como reagir
O mundo de colaboração de massa descrito no livro "Wikinomics" verá um exército de consumidores participativos, dispostos a definir as características do produto que comprarão e a interferir no processo de inovação das empresas.
Utilizadores do iPod, da Apple, modificam as características originais do produto e criam grupos de discussão para trocar suas "invenções". A BMW colocou em seu site um programa de design que permite a seus clientes dar sugestões para o desenvolvimento de dispositivos telemáticos de seus novos modelos, entre os quais estão os navegadores GPS.
A Lego tem um programa pelo qual os clientes têm acesso a um armazém virtual de objectos, com os quais podem projectar, compartilhar e comprar modelos personalizados.
O jogo on-line Second Life é um dos exemplos radicais de "prosumption", neologismo criado por Don Tapscott, autor do livro "Wikinomics", para definir a criação de produtos pelos consumidores.
O Second Life reúne cerca de 320 mil jogadores que interagem no universo virtual de acordo com regras criadas por eles próprios. "O Second Life não tem um roteiro predeterminado, e há poucas limitações em relação ao que os jogadores podem fazer. Os residentes criam quase tudo, desde lojas e casas nocturnas virtuais até roupas, veículos e outros itens para serem usados no jogo", escreve Tapscott no seu livro.
Dilema
A maioria das companhias ainda não sabe como reagir ao crescente exército de consumidores participativos. Algumas delas, como a Sony, tentam impedir a modificação de seus produtos pelos utilizadores.
Mas Don Tapscott, autor de "Wikinomics", considera o movimento irreversível e positivo. "As empresas inteligentes vão trazer os clientes para as suas redes de negócios e atribuir a eles papéis de liderança no desenvolvimento da próxima geração de produtos e serviços."
À primeira vista, a remuneração do processo criativo é uma das incógnitas deste novo modo de produção. "Nós identificamos sete formas de organização "wiki" e cada uma delas tem seu próprio mecanismo de recompensa", observou o autor de "Wikinomics".
Em algumas, a colaboração é gratuita e movida por outros incentivos que não o lucro. O caso mais emblemático talvez seja o da Wikipedia, uma enciclopédia on-line fruto da colaboração de milhares de pessoas espalhadas pelo mundo. Com apenas cinco empregados em tempo integral, a Wikipedia é hoje dez vezes maior que a enciclopédia "Britannica" e já se credenciou como uma fonte confiável de informação.
Mas como garantir a credibilidade de dados que podem ser modificados por qualquer utilizador? Tapscott observou que os próprios colaboradores zelam pela qualidade da informação e citou o caso da expressão "wikinomics" para corroborar sua afirmação.
Há alguns meses, a expressão "wikinomics" foi incluída na Wikipedia, mas logo foi retirada do site, por sugestão de vários colaboradores. O argumento era o de que o conceito ainda não havia se consolidado o suficiente para merecer estar na enciclopédia.
"Claro que eu fiquei insatisfeito, mas a decisão demonstrou a eficácia dos mecanismos de controle do processo de colaboração entre pares", ponderou Tapscott. Hoje, com 879 mil registros numa busca no Google, o conceito "wikinomics" é célebre o bastante para estar na Wikipedia.
(fonte: Folha de São Paulo)
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Posted by ...
Unknown
às
12:15
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2 comentários:
Excelente matéria. Concerteza hoje, wikinomics é um termo realmente muito válido e profissionais de diversas áreas do conhecimento devem ficar atentos ao termo e sua utilização.
Excelente matéria. Com certeza hoje, wikinomics é um termo realmente muito válido e profissionais de diversas áreas do conhecimento devem ficar atentos ao termo e sua utilização.
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